Uma das maiores frustrações deste final de século é a crise que se abate sobre a família. A desagregação do lar tira o brilho do progresso, das conquistas e da expansão do conhecimento que se promoveu nos últimos anos. Ver um lar sendo destruído causa uma dor profunda na consciência dos que levam a vida a sério.
O desmoronamento da família coincide com a crise da afetividade. A essência de nossa vivência está nos relacionamentos significativos, especialmente naqueles que se dão no âmbito de vida familiar. A afetividade é uma espécie de cimento na construção das relações humanas, mas o homem do nosso século está preso às garras do individualismo.
Sob o ponto de vista terapêutico, cuidar da família implica um cuidado urgente com nós mesmos, especialmente no que se refere aos nossos sentimentos, pois eles é que dão sentido e consistência à nossa vida. Sentimentos sadios implicam relacionamentos sadios. Isto é uma questão de aprendizagem que exige um esforço de cada um de nós para o bem da família.
Aprender a amar, a valorizar os outros, a respeitar, a perdoar, a esvaziar-se de si, a abraçar e a valorizar os pontos positivos das pessoas são coisas simples que poderão produzir mudanças profundas na vida em família. Dizer “eu o amo” é muito mais fácil do que alimentar o ódio. Nenhuma família sobrevive sem amor, pois somente este promove a tolerância, a misericórdia, a paciência, a confiança, o perdão e a renúncia.
Um segundo cuidado urgente para salvar a família está na solidificação da relação entre marido e mulher — o eixo básico dos relacionamentos familiares. Infelizmente, muitos filhos crescem sem ver sequer seus pais juntos; e outros jamais viram os pais abraçados, vivenciando afeto e ternura. O modo de viver dos pais afeta diretamente o modo de ser dos filhos, por isso assistimos a um crescimento assustador de filhos drogados, rebeldes, agressivos, apáticos e inseguros. Mas quando se fortalecem as bases, toda a estrutura familiar fica mais segura.
Para a saúde da família, é fundamental uma revisão dos nossos valores, os quais devem ultrapassar o limite do material e das coisas transitórias. Quando um filho precisa de um brinquedo para se sentir amado pelos pais ou uma esposa precisa de uma jóia para se sentir amada pelo marido, é sinal de que nesta família os valores estão invertidos, pois as pessoas devem ser valorizadas pelo que são e sentem, e não pelo que possuem ou possam oferecer.
Dentro dessa escala de valor, não podemos subestimar a fé, a esperança e o louvor. Tentar salvar a família de uma crise aguda, sem a presença de Deus e a força do amor, é, como disse Jesus, construir a casa sobre a areia; ao primeiro vento forte, tudo cai (ver Mateus 7.24-27).
(Estevam Fernandes de Oliveira, é Pastor da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, PB, conferencista internacional,  é Psicólogo, doutor em Ciências Sociais.)